sexta-feira, 10 de junho de 2016

JORNAL COMENTADO 257

ALEX FERRAZ

Coluna "EM TEMPO", "Tribuna da Bahia"


Lava Jato, Brasil e “mudanças” 

É sempre bom lembrar aquelas manifestações de rua, com milhões de pessoas, em todo o País, em junho de 2013. Lá se vão três anos. Naqueles episódios, a sociedade, tendo como estopim movimentos contra aumentos nas passagens de ônibus, mostrou que estava cheia de tanta corrupção e, mais que isso, do sistema político brasileiros, onde, de forma muitas vezes literalmente hereditária, sucedem-se figuras cujo histórico na Justiça e mesmo na Polícia comum não resiste à mais simples investigação: a maioria é ficha suja.


Então, ainda em 2013, vieram os tais “radicais”, quebrando tudo, tocando fogo em prédio, carros etc., que nada mais eram do que agentes pagos para aterrorizar a população que queria manifestar-se de forma pacífica, porém crescente e firme.  E aí, os brasileiros cordiais voltaram para casa e a baderna política, esta sim uma forma de depredação sistemática, legalizada e cruel, seguiu seu curso.
Então, surgiu a operação Lava Jato e um juiz corajoso e firme. E deu no quem temos visto, que dispensa detalhes.


No entanto, senhores, paralelamente à Lava Jato, o que temos visto é que NADA, absolutamente nada mudou para valer no comportamento da maioria absoluta dos políticos e/ou governantes brasileiros. 


E sobram exemplos disso. Comecemos pelo malfadado ministério montado pelo presidente interino Michel Temer, um time onde a maioria sofre processos e, quando alguém substitui um exonerado, este alguém também tem ficha suja. Tudo isso resultado da pressão dos parlamentares e donos de partidos para ocupar cargos importantes, leia-se: cargos onde rola muita, muita grana. Então, fica claro que a intenção é a mesma de sempre, desde que Sarney era um jovem: querem ser eleitos para ter poder e, consequentemente, muito dinheiro fácil e ilícito.


E como nada mudou a sério na política, como os que hoje falam em mudança são os mesmos de décadas perdidas atrás, sejam de que partido for, também nada muda, por exemplo, na administração pública. O exemplo mais escandaloso disso é o que vem acontecendo no Rio de Janeiro, onde, enquanto hospitais públicos viram sucatas e colégios idem, superfatura-se sem qualquer cerimônia nas obras da Olimpíada, fato, aliás, altamente previsível e cuja pedra foi cantada não só por mim, na coluna diária que faço nesta Tribuna, mas sim pela maioria da imprensa um pouco mais sensata do País.


Ontem mesmo, o prefeito Eduardo Paes, enroladíssimo em inúmeras denúncias, fazia piadas grotescas para disfarçar seu nervosismo em ter que explicar, por exemplo, por que uma via construída especificamente para facilitar o transporte público nos jogos olímpico, apresentou diversos buracos, enormes, no asfalto, DEZ dias apenas depois de inaugurada, ou ainda o superfaturamento nos trabalhos de retirada de entulho das obras olímpicas, cujo custo subiu de R$ 80 milhões para incríveis R$ 147 milhões. E mais: cobram por entulho que não foi retirado. E mais do mais: as duas empreiteiras que prestam o serviço, OAS e Queiroz Galvão, estão complicadíssimas, como se sabe a fartar, na operação Lava Jato.



Corta para o município de Tomé-Açu, no Pará, cuja prefeitura recebeu R$ 9 milhões para construir 23 escolas, mas a maioria dessas escolas JÁ EXISTIAM e outras previstas no projeto nunca foram construídas. Para se ter uma ideia do tamanho da falcatrua, a empreiteira que teria sido contratada para a construção de um desses prédios, ao custo de R$ 900 mil, declarou sede com endereço no segundo andar de um prédio que só tem...UM ANDAR!

Esses e tantos e tantos outros exemplos deixam claro de que o sistema apodrecido da política e da administração pública brasileiras não mudaram nada, mesmo estando em curso uma operação do porte da Lava Jato.



Em outras palavras, tudo soa como um solene “não to nem aí”, inclusive no que diz respeito aos desmentidos deslavadamente mentirosos das grandes figuras políticas denunciadas com fartura de provas, n a delações premiadas.



Bem, se quisermos ter um exemplo do que está acontecendo em Brasília (cito a capital simbolicamente), basta acompanhar a força tremenda de um mafioso como Eduardo Cunha, e as mil voltas que dezenas de deputados estão dando para evitar a cassação do mandato de um sujeito que, num país decente, já deveria estar na cadeia. Vamos ver no que vai dar.

 

 



Alex Ferraz é repórter e colunista diário da "Tribuna da Bahia" e solicitou a publicação deste artigo neste blog.

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