quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

"CORREIO" SE "OFICIALIZA" NA DEFESA DO IPTU. "A TARDE" E "TRIBUNA" PODEM ACORDAR...

JORNAL COMENTADO 179
6:56 - 20.02.2014 - Quinta-feira

toNY PAcheco*


“O outro lado da ADIN do IPTU”
(“Correio”)

Falando direto de Uganda para todo o planeta (sim, porque, pela enésima vez, ligo o computador e a banda larga GVT está fora do ar, embora me custe 182 reais por mês, uma das mais caras do mundo), vejo no jornal que assino um verdadeiro libelo contra a Ação de Inconstitucionalidade (ADIN) que a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Bahia moveu contra a Prefeitura de Salvador por causa do aumento astronômico do IPTU, mas, principalmente, pela majoração descontrolada do valor venal dos imóveis, sob a desculpa de que havia 19 anos que este valor não era atualizado. Se isso fosse verdade, quem deveria estar sendo penalizado pela Prefeitura, com ações de improbidade, prevaricação etc. e tal, seriam os ex-prefeitos que governaram a capital nos últimos 19 anos e não a população. É O ÓBVIO!
Pois é, mas o jornal “Correio” tem assumido a defesa da Prefeitura contra a opinião e os interesses dos  seus próprios leitores que não encontram em suas páginas o CONTRADITÓRIO. Quer dizer, lê-se tudo, menos a opinião daqueles que são contrários ao IPTU alto. Em São Paulo, a FIESP conseguiu derrubar o aumento do IPTU e teve consigo os maiores jornais locais, pois que antenados com os anseios dos seus leitores. Aqui, pelo visto, o “Correio” parece disposto a jogar no ralo a LIDERANÇA que com COMPETÊNCIA DOS SEUS JORNALISTAS conseguiu nos últimos anos. Há uns seis anos, suplantou o jornal “A Tarde”, que por décadas foi o campeão de audiência da população, pois “A Tarde” chegava a níveis estratosféricos de preferência, como aos domingos, quando vendia mais de 90% da mídia impressa da capital baiana. O “Correio”, abandonando a “oficialidade” que vinha desde a sua fundação, quando era “A VOZ DO DONO” e amargava índices de leitura baixíssimos, praticamente sem assinaturas pagas, resolveu PROFISSIONALIZAR a sua Redação e quando passou a ser A VOZ DA BAHIA e não mais do dono, bateu as décadas de liderança do jornal “A Tarde” com um projeto moderno e PLURALISTA ao extremo. Mas, desde o ano passado que isso vem mudando. Parece que os donos querem, de novo, que o jornal seja apenas a sua voz. Com certeza, leitores (principalmente assinantes) vão procurar outras fontes de leitura, tal como aconteceu com o jornal líder anterior.

PONTO DE INFLEXÃO

Seria a hora de nos perguntarmos por que “A Tarde” e “Tribuna” não aproveitam a maré OFICIALISTA do “Correio” e não voltam a lutar pela liderança do mercado??? As pautas que o “Correio” não pode mais fazer estão aí, gritando, o que daria a chance de um dos dois jornais tomar a liderança. 
Vamos a algumas pautas: 1) a volta do “CHUPA CABRAS”, a “INDÚSTRIA DE MULTAS” da Transalvador de que nos falava o jornalista CRUZ RIOS, diretor de “A Tarde”, derrotando esta verdadeira “SEGUNDA DERRAMA DE DONA MARIA, A LOUCA”. Curiosamente, nem “A Tarde” nem “Tribuna” se interessam pelo assunto, mesmo ele tendo se tornado um verdadeiro imposto oficioso sobre a propriedade de veículos em Salvador, com várias áreas tornadas “INESTACIONÁVEIS” para gerar multas e reboques, com agentes que têm visão de raio ”X” e multam falta de cinto de segurança pra quem usa película nos carros e nem Superman saberia se o motorista está ou não com o cinto e, o mais tragicômico, a colocação de velocidade máxima de 40 km onde antes eram 70 ou 60 o limite, criando ARAPUCAS para que a caixa registradora do órgão de trânsito da Prefeitura não pare de tilintar; 2) o estado calamitoso das escolas municipais, como a de Paripe, tomada por esgotos a céu aberto e ratos, como mostrou o programa “Que Venha o Povo”, da TV Aratu/SBT, na última quarta-feira; 3) as ruas que estão esburacadíssimas, pois o asfalto só está sendo renovado nos grandes corredores e no “Circuito Helena Rubinstein”, que vai da Vitória até a Pituba, passando pela Barra, a menina-dos-olhos da Prefeitura: é como se os outros 90% da cidade NÃO EXISTISSEM; 4) a política dos “PASSEIÕES” da orla soteropolitana, que afasta os pobres (negros e quase-negros?) da beira do mar e a pergunta para um jornalismo realmente investigativo: o quê está por trás da política milionária dos “passeiões”, que na Barra foi orçado em incríveis 57 milhões de reais...
Quer dizer, “A Tarde” e “Tribuna” têm 2 anos e 8 meses para recuperar o mercado de jornais baiano. Vamos ver se agirão empresarialmente como os proprietários do “Correio” já o fizeram há alguns anos, quando passaram de último lugar para líderes ou se vão perder esta JANELA DE OPORTUNIDADE, quando as pautas do “Correio” se tornaram oficiais ou oficiosas.


* Tony Pacheco é jornalista-radialista profissional formado pela UFBA, estudou Economia nas universidades federais de Juiz de Fora e da Bahia e Psicanálise na Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

"AMOR À VIDA": MUITO ALÉM DE DOIS HOMENS SE BEIJANDO

JORNAL COMENTADO 178
6:46 - 01.02.2014 - Sábado

tONY pACheco*

"Amor à Vida" mostra que pais podem criar filhos-monstros
(na Rede Globo, ontem e hoje, 21 horas)

O beijo na boca entre dois homens na novela "Amor à Vida", sem dúvida é um marco na capacidade de inspirar tolerância que uma obra de arte pode ter, mas para lá do simbolismo sociológico e antropológico, a mensagem fundamental da novela gira em torno da CAPACIDADE DE REDENÇÃO das personagens principais, vividas pelo ator Mateus Solano (o "Félix") e "Dr. César", o médico pai de "Félix", vivida pelo co-protagonista Antonio Fagundes. A relação entre os dois também deixa uma mensagem clara: BOA PARTE DOS MONSTROS DO MUNDO SÃO CONSTRUÍDOS PELOS PAIS DENTRO DE CASA.
Não é preciso ser freudiano (Sigmund Freud, "Pai da Psicanálise") para entender que se os pais não dão amor, atenção, inspiração e uma base sólida aos filhos, elevando sua auto-estima, os filhos com certeza não terão forças para enfrentar as dores do mundo. Muitas correntes da Psicologia, da Psiquiatria e da Psicanálise quiseram desmontar a premissa básica dos estudos de Freud sobre a importância do passado no presente e no futuro de todos os seres humanos. Mas não conseguiram. E "Amor à Vida" foi uma boa reflexão sobre isso: em boa parte, não somos os únicos responsáveis pela construção de nossas personalidades. O entorno familiar é capaz de destruir o lado Bom de um ser humano e o jogar no lado Mau, como única arma para enfrentar a rejeição e o desprezo dos pais.

DESTRUIÇÃO DE UM FILHO

A personagem "César" na novela mostra um pai que leva uma vida como a maioria dos homens leva: casado, mas cheio de mulheres. Mas, a vida de profunda entrega ao prazer do pai, convive, paradoxalmente, com uma homofobia cruel em relação à orientação sexual do filho, que prefere homens, em vez do sexo oposto. O pai humilha "Félix" desde criança e não perde uma oportunidade de lembrar ao filho que PREFERIA QUE ELE NÃO TIVESSE NASCIDO. O efeito devastador de uma afirmação dessa só pode ser avaliado por um profissional da área psicológica ou pela própria vítima do preconceito. Saindo de casa num clima de anulação de sua personalidade, "Félix" não encontra forças para lutar contra o mesmo preconceito nas ruas e vê como única saída para enfrentar a selva que é o mundo, a adesão ao "lado negro da Força", parodiando George Lucas em sua "Guerra nas Estrelas".
O dramaturgo Walcir Carrasco foi muito feliz na construção da personagem "Félix", modelando o ódio que um filho desprezado pode ter pelo mundo ao seu redor se não encontra nenhum amor em casa. E mais correto foi ainda mostrando a personagem do pai, "César", como um devasso sexual que não permite ao filho ter uma orientação sexual diferente da sua, repetindo a máxima de que "POR TRÁS DE UM PRECONCEITUOSO HÁ SEMPRE UM DEVASSO".

PARABÉNS À GLOBO!

Agora, embora combatida por uma certa elite intelectual, temos que registrar que somente a Globo poderia exibir um folhetim como este. Tão denso, TÃO CHEIO DE VIDA REAL. Nenhum personagem é totalmente bom, nenhum é totalmente mau, como, aliás, acontece NAS NOSSAS VIDAS.
Walcir Carrasco não economizou em nenhum dos preconceitos que a sociedade alimenta em nós, o que também só a Globo poderia ter dado liberdade a um autor para fazê-lo: tem mulheres idosas que se apaixonam por jovens sensuais, tem médico que se envolve com enfermeiras, tem casal de idosos que resolvem retomar a vida sexual, tem gente com AIDS, tem gente que começou bandido(a) na novela e terminou bandido(a), como as personagens "Dra. Amarilis" e "Dr. Jackson", pois Walcir mostrou que NEM TODO SER HUMANO PERSEGUE A REDENÇÃO, muitos gostam mesmo de viver do "lado negro da Força". Há até um drama que foge às fronteiras brasileiras, dando um ar de extraterritorialidade corajosa, ao mostrar o amor de uma médica judia por um médico árabe-palestino que fez atentados terroristas contra Israel.
Repito, só a Globo tem coragem de enfrentar a ignorância mediana do público brasileiro e mostrar que a TOLERÂNCIA é, enfim, a mais edificante das humanas características, como dizia John Locke.

* tonY Pacheco é jornalista-radialista formado pela UFBA, psicanalista formado pela SPOB e estudou Economia nas universidades federais de Juiz de Fora e Bahia.