sábado, 5 de setembro de 2015

Quando político fala em "mudança" ele só pensa em não mudar nada


ALEX FERRAZ

A volta dos que não foram



Congresso Nacional, 1º de janeiro de 2003, portanto 12 anos atrás. O recém-eleito presidente Lula discursa e diz, entre outras coisas:
“Mudança. Esta é a palavra-chave, esta foi a grande mensagem da sociedade brasileira nas eleições de outubro. A esperança finalmente venceu o medo, e a sociedade brasileira decidiu que estava na hora de trilhar novos caminhos.
Diante do esgotamento de um modelo que, em vez de gerar crescimento, produziu estagnação, desemprego e fome; diante do fracasso de uma cultura do individualismo, do egoísmo, da indiferença perante o próximo, da desintegração das famílias e das comunidades.
Diante das ameaças à soberania nacional, da precariedade avassaladora da segurança pública, do desrespeito aos mais velhos e do desalento dos mais jovens; diante do impasse econômico, social e moral do País, a sociedade brasileira escolheu mudar e começou, ela mesma, a promover a mudança necessária.
Foi para isso que o povo brasileiro me elegeu Presidente da República: para mudar. Este foi o sentido de cada voto dado a mim e ao meu bravo companheiro José Alencar. E eu estou aqui, neste dia sonhado por tantas gerações de lutadores que vieram antes de nós, para reafirmar os meus compromissos mais  profundos e essenciais, para reiterar a todo cidadão e cidadã do meu País o significado de cada palavra dita na campanha, para imprimir à mudança um caráter de intensidade prática, para dizer que chegou a hora de transformar o Brasil naquela nação com a qual a gente sempre sonhou: uma nação soberana, digna, consciente da própria importância no cenário internacional e, ao mesmo tempo, capaz de abrigar, acolher e tratar com justiça todos os seus filhos.”

CORTA PRA MIM: doze aos depois, com contínuo crescimento da “precariedade avassaladora da segurança pública” e frente a um “impasse econômico”, eis que as inserções de propaganda política na TV, nos últimos dias, repetem a ladainha da “mudança”, na voz de todos os partidos, pois, como se sabe, a situação eleitoral do PT não é boa.
O que vemos são velhas raposas, raposinhas novas, partidos com 70 ou mais anos de existência, partidos novos mas que já estão na estrada há tempo suficiente para terem feito algo, enfim, todos aqueles que querem preparar terreno para as eleições municipais, da mais radical direita aos ditos de esquerda, prometerem “um novo Brasil”, mudanças, mudanças, enfim.
Fica no ar a grande dúvida: como acreditar em tais discursos depois da tremenda decepção que tivemos nos últimos 12 anos? Como crer que velhas raposas liberais ou de direita vão promover alguma mudança, que não seja para retornarmos ao mais puro coronelismo? Como acreditar que esquerdóides enferrujados farão “um novo Brasil”?
Enquanto pontuarem no cenário político as raposas, velhas e novas, que só querem extorquir o erário, JAMAIS poderemos ter confiança, novamente, em discursos de mudanças e avanços.
Uma desilusão que certamente levará muitos a se absterem de votar ou votar nulo, não tenham dúvida.
Portanto, a reflexão deve ser: olhem para TODOS os lados, analisem todos os neo-discursos gerados pela total falta de credibilidade dos políticos diante da sociedade, e veremos que ensaia-se mais uma campanha onde o falatório e as promessas vãs dominarão, talvez com outro estilo de linguagem.
Apuradas as unas de 2016, 2018 etc., certamente seguiremos com “precariedade avassaladora da segurança pública” e tantas outras mazelas apontadas por Lula no seu histórico discurso de posse, mas que seguem hoje, se não iguais, muito piores.
E mais uma dúvida no ar: o que fazer? Particularmente. Não tenho a mínima idéia. Sigo partidário da máxima: não sei o que quero, mas sei exatamente o que NÃO quero.

Alex Ferraz é repórter, colunista diário da Tribuna da Bahia.

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