ALEX FERRAZ
Coluna "EM TEMPO", "Tribuna da Bahia"
Lava Jato, Brasil e “mudanças”
É sempre bom lembrar aquelas manifestações de
rua, com milhões de pessoas, em todo o País, em junho de 2013. Lá se vão três
anos. Naqueles episódios, a sociedade, tendo como estopim movimentos contra
aumentos nas passagens de ônibus, mostrou que estava cheia de tanta corrupção
e, mais que isso, do sistema político brasileiros, onde, de forma muitas vezes
literalmente hereditária, sucedem-se figuras cujo histórico na Justiça e mesmo
na Polícia comum não resiste à mais simples investigação: a maioria é ficha
suja.
Então, ainda em 2013, vieram os tais “radicais”,
quebrando tudo, tocando fogo em prédio, carros etc., que nada mais eram do que
agentes pagos para aterrorizar a população que queria manifestar-se de forma
pacífica, porém crescente e firme. E aí, os brasileiros cordiais voltaram
para casa e a baderna política, esta sim uma forma de depredação sistemática,
legalizada e cruel, seguiu seu curso.
Então, surgiu a operação Lava Jato e um juiz
corajoso e firme. E deu no quem temos visto, que dispensa detalhes.
No entanto, senhores, paralelamente à Lava Jato,
o que temos visto é que NADA, absolutamente nada mudou para valer no
comportamento da maioria absoluta dos políticos e/ou governantes brasileiros.
E sobram exemplos disso. Comecemos pelo
malfadado ministério montado pelo presidente interino Michel Temer, um time
onde a maioria sofre processos e, quando alguém substitui um exonerado, este
alguém também tem ficha suja. Tudo isso resultado da pressão dos parlamentares
e donos de partidos para ocupar cargos importantes, leia-se: cargos onde rola
muita, muita grana. Então, fica claro que a intenção é a mesma de sempre, desde
que Sarney era um jovem: querem ser eleitos para ter poder e, consequentemente,
muito dinheiro fácil e ilícito.
E como nada mudou a sério na política, como os
que hoje falam em mudança são os mesmos de décadas perdidas atrás, sejam de que
partido for, também nada muda, por exemplo, na administração pública. O exemplo
mais escandaloso disso é o que vem acontecendo no Rio de Janeiro, onde,
enquanto hospitais públicos viram sucatas e colégios idem, superfatura-se sem
qualquer cerimônia nas obras da Olimpíada, fato, aliás, altamente previsível e
cuja pedra foi cantada não só por mim, na coluna diária que faço nesta Tribuna,
mas sim pela maioria da imprensa um pouco mais sensata do País.
Ontem mesmo, o prefeito Eduardo Paes,
enroladíssimo em inúmeras denúncias, fazia piadas grotescas para disfarçar seu
nervosismo em ter que explicar, por exemplo, por que uma via construída
especificamente para facilitar o transporte público nos jogos olímpico,
apresentou diversos buracos, enormes, no asfalto, DEZ dias apenas depois de
inaugurada, ou ainda o superfaturamento nos trabalhos de retirada de entulho
das obras olímpicas, cujo custo subiu de R$ 80 milhões para incríveis R$ 147
milhões. E mais: cobram por entulho que não foi retirado. E mais do mais: as
duas empreiteiras que prestam o serviço, OAS e Queiroz Galvão, estão
complicadíssimas, como se sabe a fartar, na operação Lava Jato.
Corta
para o município de Tomé-Açu, no Pará, cuja prefeitura recebeu R$ 9 milhões
para construir 23 escolas, mas a maioria dessas escolas JÁ EXISTIAM e outras
previstas no projeto nunca foram construídas. Para se ter uma ideia do tamanho
da falcatrua, a empreiteira que teria sido contratada para a construção de um
desses prédios, ao custo de R$ 900 mil, declarou sede com endereço no segundo
andar de um prédio que só tem...UM ANDAR!
Esses e tantos e tantos outros exemplos deixam claro de que
o sistema apodrecido da política e da administração pública brasileiras não
mudaram nada, mesmo estando em curso uma operação do porte da Lava Jato.
Em outras palavras, tudo soa como um solene “não to nem
aí”, inclusive no que diz respeito aos desmentidos deslavadamente mentirosos
das grandes figuras políticas denunciadas com fartura de provas, n a delações
premiadas.
Bem, se quisermos ter um exemplo do que está acontecendo em
Brasília (cito a capital simbolicamente), basta acompanhar a força tremenda de
um mafioso como Eduardo Cunha, e as mil voltas que dezenas de deputados estão
dando para evitar a cassação do mandato de um sujeito que, num país decente, já
deveria estar na cadeia. Vamos ver no que vai dar.
Alex Ferraz é repórter e
colunista diário da "Tribuna da Bahia" e solicitou a publicação deste artigo neste blog.
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