sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A raposa, o galinheiro e a Petrobras


ALEX FERRAZ

Nem me lembro quantas vezes já iniciei meu comentário com a expressão "uma vergonha" ou "escandaloso". Mas sejam tantas quanto forem essas vezes, cabe mais uma: o resultado da CPI do Petrolão ultrapassou todos os limites. Explico: acabar em pizza, uma CPI, vinha sendo considerado normal. No entanto, ninguém esperava que, diante do quadro de absoluto descrédito em relação aos poderes executivo e legislativo, neste País, com tanta gente envolta em inexplicáveis tramamóias de corrupção,  haveria coragem dos parlamentares de transformar uma investigação num patético manifesto de isenção para seus pares, em detrimento, repito, de todas as provas contundentes.
Vejamos: a CPI do Petrolão, ou da Petrobras, inocentou TODOS os políticos, TODOS que dirigiram a Petrobras, inclusive a presidente Dilma, que, à época, presidia o conselho da estatal, e condenou apenas os empresários. Que  corromperam e foram corrompidos, não parece haver dúvida, tanto que muitos deles continuam atrás das grades.
No entanto, é IMPOSSÍVEL admitir que todo o esquema tivesse sido urdido sem a participação indispensável dos políticos, já que, como se sabe, esta foi MAIS uma forma de afanar o dinheiro público em prol de um projeto de PODER que deveria durar décadas (ainda deve vir por aí o escândalo dos fundos de pensão. Aguardem!).
Há nomes como os de Renan Calheiros, Collor de Mello, Eduardo Cunha e, mesmo, do próprio Lula, nitidamente envolvidos nesta imensa falcatrua. Mas os políticos da CPI optaram, claro, por isentá-los e criar uma corrupção sem corruptores, ou, pior, sem corrompidos.
Para piorar a situação, a CPI, como tantas outras, envolveu gastos milionários, tudo pago pelo Estado (leia-se: nosso dinheiro) que hoje nos arrocha com o pretexto de economizar. Por exemplo,  houve a suspeitíssima contratação da empresa Kroll, encarregada de espionar e investigar supostos envolviodos no escândalo. Ela levou quase 1,2 milhão de reais para nada, absolutamente nada.
Uma palhaçada incrível - mas nunca diria sem precedentes -, com meia dúzia de parlamentares fazendo poses para as TVs oficiais da Câmara e Senado, muitos discursos vagos, "depoimentois" secretos, e, claro, alguns depoimentos contundentes, que, obviamente, não foram levados a sério.
Não há muito mais o que falar, mas sinto-me na obrigação de lembrar que, mais uma vez, a opinião pública brasileira foi engabelada. Pior: os políticos ratificaram sua intenção nata de MENTIR, enganar, e fazer crer a todos que o que eles decidem é a verdade.
Lamentável, senhora presidente, senhor presidente da Câmara e senhor presidente do Senado, que os senhores continuem a cavar a cova das instituições brasileiras, a troco de milhões em suas contas e de nenhum decoro nem responsabilidade para com o País. E alguém acha que isso vai mudar? Hum, esperem sentados...


Alex Ferraz é jornalista, colunista diário da Tribuna e escreve neste espaço às sextas-feiras

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